Uma estória Zen.

14/05/2014 11:07

      Um rei muito curioso, querendo saber sobre o que essas pessoas fazem em um mosteiro, perguntou, "Quem era o Mestre mais famoso?"

      Descobrindo que o Mestre mais famoso daqueles tempos era Nan-in, ele foi ao mosteiro dele. Quando ele entrou no mosteiro ele encontrou um lenhador. Ele o perguntou, "O mosteiro é grande, onde eu encontro Mestre Nan-in?"

      O homem fechou os olhos e pensou por alguns instantes, e ele disse, "Agora você não conseguirá encontrá-lo."

      O rei disse, "Por que eu não conseguirei encontrá-lo agora? Você sabe que eu sou o imperador?"

      Ele disse, "Isso é irrelevante. Quem quer que você seja, isso é problema seu, mas eu lhe garanto que você não conseguirá encontrá-lo agora."

      "Ele saiu?" perguntou o rei.

      "Não, ele está ai," respondeu o lenhador.

      O rei disse, "Mas ele está trabalhando, está em alguma cerimônia, ou em isolamento? Qual é o problema?

      O homem disse, "Ele está agora cortando lenha na sua frente. E quando eu estou cortando lenha, eu sou só um lenhador. Agora, onde está Mestre Nan-in? Eu sou só um lenhador. Você terá que esperar."

      O imperador pensou, "Esse homem é maluco, simplesmente maluco. Mestre Nan-in cortando lenha?

      Ele foi em frente, e deixou o lenhador para trás. Nan-in continuou cortando madeira. O inverno estava chegando, e precisava-se estocar lenha. O imperador poderia esperar, mas o inverno não esperaria. O imperador esperou por uma hora, duas horas - e então pela porta dos fundos veio Mestre Nan-in, em seu traje de Mestre. O rei olhou para ele. E ele se parecia com o lenhador, mas o rei curvou-se.

      O Mestre sentou-se, e perguntou, "Por que você dificultou tanto a sua vinda até aqui?"

      O rei disse, "Tem muitas coisas, mas deixarei as perguntas para depois. Primeiro eu quero saber: você é o mesmo homem que estava cortando lenha?"

      Ele disse, "Agora eu sou Mestre Nan-in. Eu não sou o mesmo homem; tudo se transformou. Agora eu estou aqui sentado como Mestre Nan-in. E você pergunte como um discípulo, com humildade, receptividade. Sim, um homem muito, muito parecido comigo estava cortando lenha, mas aquele era o lenhador. O nome dele também é Nan-in."

      O rei ficou tão intrigado que foi embora sem perguntar o que ele tinha vindo perguntar. Quando ele voltou para a corte, seus assessores perguntaram o que tinha acontecido.

      Ele disse, "O que aconteceu é melhor ser esquecido. Esse Mestre Nan-in parece ser absolutamente insano! Ele estava cortando lenha e disse, ‘Eu sou o lenhador e Mestre Nan-in não está disponível no momento.’ Então o mesmo homem veio em trajes de Mestre e eu o perguntei, e ele disse, ‘Um homem parecido estava cortando lenha, mas ele era o lenhador; Eu sou o Mestre.”

      Um dos homens da corte disse, "Você perdeu o ponto do que ele estava tentando lhe dizer - que quando ele corta lenha ele está totalmente envolvido nisso. Nada é deixado que possa ser parte de Mestre Nan-in; nada é deixado, ele é apenas um lenhador." E na linguagem Zen, que é difícil de se traduzir, ele não dizia exatamente que "Eu sou um lenhador", ele dizia, "Agora a lenha esta sendo cortada não um lenhador porque não há nem mesmo espaço para o lenhador." É simplesmente lenha sendo cortada, e ele está tão envolvido nisso, que é só lenha sendo cortada: o corte da lenha está acontecendo. E quando ele vem como Mestre, claro, é em uma qualidade diferente. As mesmas partes estão agora num diferente acordo.

      Assim, em cada ação você é uma pessoa diferente, se você envolve-se totalmente nisso. Buddha costumava dizer, "É como a chama de uma vela que parece ser a mesma, mas nunca é a mesma nem sequer por dois momentos consecutivos. A chama está continuamente se tornando fumaça, e nova chama está surgindo. A velha chama está indo, a nova chama está chegando. A vela que você acendeu a noite não é a mesma vela que você assoprará pela manhã. Esta não é a mesma chama que havia começado; aquela já se foi, ninguém sabe para onde. É apenas a semelhança da chama que lhe deu a ilusão de que esta é a mesma chama."

      O mesmo acontece com o seu ser. É uma chama. É um fogo. A cada momento o seu ser está mudando, e se você se envolver totalmente em qualquer ação você verá como a mudança acontece em você - cada momento um novo ser, e um novo mundo, e uma nova experiência. Tudo de repente se torna tão cheio de novidade que você nunca vê a mesma coisa duas vezes.

      Então, naturalmente, a vida se torna um mistério contínuo, uma surpresa contínua. Em cada passo um novo mundo se abre, de tremendo significado, de um êxtase incrível. E quando a morte chega, a morte também não é vista com algo separado da vida. É parte da vida, não um fim da vida. É exatamente como os outros acontecimentos: o amor aconteceu, o nascimento aconteceu. Você era uma criança, e então sua infância desapareceu; você se tornou jovem, e então sua juventude desapareceu; você se tornou velho, e então a velhice desapareceu - quantas coisa já aconteceram! Por que você não permite que a morte também aconteça assim como os outros incidentes? E, na verdade, a pessoa que viveu a vida momento a momento, vive a morte também, e descobre que todos os momentos da vida podem ser postos de um lado e que o momento da morte pode ser posto do outro lado, e ainda assim pesa mais. Em todos os sentidos pesa mais porque é a vida toda condensada; e algo a mais é adicionado à ela, o qual nunca foi disponível a você. Uma nova porta se abre, com toda a vida condensada: uma nova dimensão se abre.

Osho