Penetrando nos Corações dos Homens

23/04/2014 10:08

Respeite intensamente toda a vida que o rodeia.

 

 ...Respeite a vida que o rodeia e que está em constante mudança e movimento, pois ela é formada pelos corações dos homens; e quando você aprender a compreender a constituição e o significado deles, será capaz, gradualmente, de interpretar o mundo mais amplo da vida.

 

 Reverência pela vida, respeito pela vida.

 

Geralmente, os assim-chamados religiosos são negativos em relação à vida. Eles estão contra a vida. Observe seus rostos, observe seus olhos. Eles condenam todas as coisas. Essa atitude negativa causou em todo o mundo uma negação da vida. A religião parece ter se tornado um aliado da morte e não um amigo da vida. Ela parece ser contra a vida, pois lhe diz constantemente: “Abandone a vida. Transcenda-a. Mova-se na direção da outra vida, que se encontra além desta vida.”

 

Deus parece não concordar que você seja uma parte da vida. É como se a vida fosse considerada uma punição. “Você está aqui porque pecou. Você não estaria aqui se não houvesse nenhum pecado em sua vida.” Mas essa atitude é inteiramente doentia, patológica. Na verdade, o divino e a vida não são duas coisas. Ao contrário, são uma extensão de um único fenômeno.

 

Aqui e ali (isto e o além) não são duas coisas. O que está aqui, esta vida, é um degrau na direção do além. Se você negar esta vida, não alcançará a outra; não poderá ir além. Para se ir além disto não é preciso nenhuma negação.

 

Para se ir além, é preciso uma profunda compreensão desta vida. Como conseguir uma profunda compreensão desta vida? Isso será impossível se você não reverenciar a vida. Reverencie a vida sempre que a encontrar; ajude-a a crescer. Seja criativo para com ela; não seja destrutivo.

 

Mas somos destrutivos de muitas maneiras. Olhe ao seu redor. Todas as coisas que estão profundamente associadas à vida são condenadas. O sexo é condenado, o amor é condenado, porque são a fonte da vida.

 

Uma pessoa religiosa precisa ser um monge, um celibatário. Por quê? Por que aquele que busca o divino precisaria ser um celibatário? Qual a necessidade disso? Por que há tanta propaganda contra sexo, contra o amor, contra a vida? É porque o sexo parece ser a fonte da vida; parece ser a energia original que move o mundo. Os que são contra o mundo certamente serão contra o sexo. “Elimine totalmente o sexo de sua vida!” - isso é o que eles ensinam. Mas se você eliminar o sexo, eliminará a vida toda. Se você for contra o sexo, não poderá reverenciar a vida. Você estará contra a própria vida.

 

Estes sutras são muito significativos. Eles dizem para reverenciar a vida em todas as suas formas, porque quanto mais você a reverenciar mais profundamente poderá ir. Na verdade, Deus não se encontra além desta vida, mas dentro dela. Deus é o centro, o próprio centro, e a vida é apenas a periferia. Penetre profundamente na vida e você chegará ao verdadeiro centro, ao verdadeiro fundamento da própria vida.

 

Deus não é o criador; ele é a própria criatividade. As concepções cristãs e maometanas a respeito de um “Deus criador” criaram muita confusão. Essas atitudes são um tanto infantis. São admissíveis se você estiver conversando com crianças, mas absurdas se estiver conversando com pessoas de discernimento.

 

Conclui-se dos dogmas cristão e maometanos que Deus criou o mundo em algum lugar no passado. Ele criou o mundo em seis dias e, no sétimo dia, descansou. E, depois disso, não fez mais nada. O mundo começou a caminhar por si mesmo.

 

Essa concepção cria uma atitude dividida: que Deus e o mundo são duas coisas diferentes. Isso não é verdade. Deus não criou o mundo tornando-o separado de si mesmo. Não é como o pintor que pinta um quadro. O pintor é uma coisa e o quadro é outra. A concepção hindu é mais profunda. Ela diz que Deus não é como um pintor, mas sim como um dançarino: Shiva, o dançarino.

 

Semelhante a um dançarino, porque a dança e o dançarino não são dois. Você não pode separá-los. O pintor pode ser separado da sua pintura, mas o dançarino não pode ser separado da sua dança. O dançarino e a dança são um.

 

Deus não é criador, não é uma entidade separada. Deus é a própria criatividade, a própria vida. Assim, se você é contra a vida, você é contra Deus. Diz-se que Gurdjieff fez em algum lugar uma declaração muito paradoxal mas bastante verdadeira. Ele disse que as assim chamadas religiões são todas contra Deus, porque são contra a vida. Mas a verdadeira religiosidade é sempre a favor da vida, nunca contra ela.

 

Se você entrar profundamente na dança, alcançará o dançarino. A dança é apenas a forma. Se entrar profundamente na dança, alcançará o próprio coração do dançarino. E se você entrar profundamente na vida, alcançará o princípio originador da vida: Deus.

 

Deus é criatividade. Ou, se me permitem dizê-lo, eu preferiria dizer que Deus é a própria existência. Deus é vida.

 

Jesus disse: “Deus é amor.” Essa foi uma das razões pelas quais ele foi crucificado - porque ele chamou Deus de “amor”. O amor é condenado, é um pecado, e ele chamou Deus de “amor”. Isso fez com que ele parecesse muito rebelde; ele deve ter se mostrado demasiadamente a favor da vida. A velha mente judaica, a velha mente religiosa, não pôde tolerar isso. Era um sacrilégio! Jesus falando sobre Deus em termos de amor? Deus está além da vida e do amor! Você precisa abandonar todas as coisas: a vida, o amor, tudo. Somente então você pode encontrá-lo. E esse homem, Jesus, traz Deus aqui para a Terra e fala em termos de amor!

 

Na verdade, Deus é vida, Deus é amor. Deus é este próprio mundo. Não crie uma divisão, não crie um dualismo. Somente então você pode reverenciar a vida. Sempre que, em qualquer lugar, você se deparar com a vida - uma semente germinando, uma árvore florescendo, estrelas se movendo, um rio fluindo, uma criança rindo - lembre-se, Deus está perto de você. Quando uma criança ri, observe o riso. Entre nele. Você terá entrado no próprio templo. Quando o rio fluir, observe amorosamente. Una-se a esse fluxo, permaneça em profunda reverência.

 

Os hindus chamaram todos os rios de deuses; chamaram todas as montanhas de divindades. Eles tornaram a Terra sagrada. Essa é uma das coisas mais belas que já aconteceram à consciência humana. Os hindus chamam o Ganges de Mãe. Isso significa reverência pela vida. As montanhas eles chamam de deuses. Isso significa reverência pela vida. Eles veneram as árvores. Os que se tornaram intelectualmente sofisticados pensam que os hindus são estúpidos, um povo supersticioso, mas eles não o são. A árvore não é o ponto importante. Quando eles estão venerando uma árvore ou um rio, estão venerando a vida.

 

Uma árvore é mais viva do que qualquer templo, do que qualquer igreja; um rio é mais vivo do que qualquer mesquita. Os ídolos de pedra em seus templos estão mortos; uma árvore é mais viva. Você pode ser supersticioso, mas a pessoa que está venerando uma árvore não o é. Ela pode não estar ciente do que está fazendo, mas há uma profunda reverência pela vida em todas as suas formas, um profundo respeito.

 

E celebre. Onde quer que você sinta que a vida está crescendo, celebre-a, ame-a, acolha-a, e uma grande transformação acontecerá a você. Se a vida é reverenciada em todas as suas formas, você se torna mais vivo. Torna-se mais receptivo à vida, e a vida começa a fluir abundantemente em você; ela transborda em você. Bem-aventurança é isso: vida transbordando.

 

Mas você está mais interessado na morte e menos interessado na vida. Mais interessado na destruição, no ódio; mais interessado nas guerras do que no amor, na vida. Isso o torna morto e insensível. Antes de morrer realmente, você já está morto. Quando a morte lhe sobrevém, você já está morto. Você se transformará naquilo que você reverenciar. Se você reverenciar a vida, tornar-se-á, cada vez mais, vida. Se reverenciar a morte, tornar-se-á, cada vez mais, morte.

 

Lembre-se disto: Respeite a vida que o rodeia e que está em constante mudança e movimento, pois ela é formada pelos corações dos homens; e quando você aprender a compreender a constituição e o significado deles, será capaz, gradualmente, de interpretar o mundo mais amplo da vida.

 

Aprenda a olhar inteligentemente para os corações dos homens.

 

...Estude os corações dos homens, a fim de que possa saber o que é este mundo no qual você vive e do qual você será uma parte.

Osho