A chuva e as queixas

01/02/2013 15:51

 

Como entender a razão de algumas queixas.

A gente se queixa do frio no inverno. E do calor no verão.

A gente se queixa se chove, se não chove, se o céu fica cinza...

A queixa parece fazer parte do repertório humano.

Mas ando pensando, cá com os meus botões, que "queixar-se" é diferente de "reclamar".

Talvez o queixar-se reflita um descontentamento interno (daí o uso do reflexivo "se": "queixar-se"), um desgosto, algo mais sutil e subjetivo. Nós nos queixamos de algo quando na verdade o que pode estar incomodando é outra coisa que nem sempre conseguimos detectar, perceber (mas que está relacionada com o motivo da queixa).

Talvez o reclamar se refira a coisas mais objetivas e pontuais. Reclamar de um mau atendimento, de um produto com defeito, de uma prestação de serviço malfeita, de algo que causa danos...

Mas e quando o dano é moral? [Quando o que nos afeta vai tão fundo que acaba sendo soterrado embaixo de camadas e mais camadas que nos protegem de sentimentos conflituosos e emoções que podem fugir do controle?]

Quando ouço alguém se queixar da chuva, acho que o que incomoda, no fundo, é a total impotência em controlar o clima, em ter a liberdade de ir e vir afetada, prejudicada, em poder fazer o que gosta e quer num dia chuvoso (como ficar em casa debaixo do cobertor...).

Quando reclamo que estou molhada por causa da chuva, estou reclamando do mal-estar causado por estar encharcada, por causa de pés e pernas molhados e frios que me deixam o corpo todo tremendo. É mais físico.

Posso estar enganada... ou não, como diria Caetano.

O fato é que tento a cada dia me queixar menos e "reclamar mais" (unindo a reclamação a alguma atitude ou ação concreta que ajude a resolver os problemas).

As queixas... bem, essas vou ter de resolver entrando em contato com um lado mais profundo de mim mesma, compreendendo a razão de insatisfações, medos, inseguranças, encarando o que tento evitar (porque, quando tomo consciência de algo que não vai lá muito bem, preciso tomar uma atitude).

E quer saber? Não há nada melhor do que um belo dia de chuva para fazer a gente olhar para dentro, descobrir o que não anda bem e entender a razão de algumas queixas...

"Dia de chuva

É para a gente rasgar cartas antigas...

Folhear lentamente um livro de poemas...

Não escrever nenhum..."

(Mario Quintana)

Por Célia Cris Silva